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Foto do escritorL. Antilibertários

Refutando o ancom

Atualizado: 25 de set. de 2023

Você já ouviu falar da teoria da ferradura? Pois é, quem diria que um site especializado em refutar os anarcocapitalistas iria um dia fazer um post sobre um ancom. Trata-se do Sr. Nick Lala, que se você não conhece saiba que tudo que tem saber sobre ele é que é um ancom que tive uma discussão há algum tempo. Porém, devido a sua insistência em repetir as mesmas falácias de sempre, resolvi deixar um post pronto para refuta-lo toda vez que ele insistir nessa baboseira.


Ok, refutando dois dos principais argumentos pró ancom do Nick Lala: 1- "Steven Pinker está certo ou errado sobre as populações sem estado?" e 2- "Sociedades caçadoras e coletoras podem sustentar grandes populações?" Decidi abordar só esses dois pontos pois outros argumentos deles são meio insustentáveis quando colocados em contexto. Ex: Quando ele diz que os caçadores coletores seriam mais fortes, mais inteligentes, comiam melhor, dentes mais bonitos, maior altura, etc... Isso é irrelevante pois na verdade é um indicativo de uma era tão difícil de viver que fracos, deficientes, com problemas de visão e saúde e demais características consideradas ruins para a vida na selva simplesmente não sobreviviam. E se você acha isso bom está a um passo de ser um eugenista.


Também a questão da altura é completamente irrelevante, e se torna menos relevante ainda quando colocada em seu devido contexto. Primeiro que a maior queda na média de altura ocorreu dentro da era caçadora e coletora, vários estudos colocam que na era pré-glacial a média de altura dos homens era próximo de 1.80 m, e já na era Paleolítica Superior houve uma queda para 1.66 m, e depois no mesolítico para próximo de 1.68 m. Ou seja, se a queda na altura é algo tão ruim assim, saiba que ela também ocorreu dentro do período de caçadores coletores, e inclusive é uma queda até mais significativa. No Neolítico, algumas populações apresentavam altura média entre os homens em torno de 1.64 m a 1.68 m. [1]


Como eu disse, quando investigamos as causas da queda isso se torna bem irrelevante. Vejamos, o que determina a altura de uma pessoa? Sabemos hoje que o principal agente da altura de um indivíduo é a genética, sendo responsável por 80% da altura do indivíduo, porém existem outros fatores que também tem grande influência na altura da pessoa, como alimentação e contato com doenças na infância. E o que tivemos na passagem do Paleolítico e Mesolítico (Caçadores e coletores e nômades) para o Neolítico (Agricultura e sedentarismo)? Exatamente, uma mudança na alimentação e no estilo de vida que promove isso. Veremos mais a frente a razão para isso ter ocorrido, mas por agora só é importante entender apenas que as pessoas na passagem do estilo de vida caçador e coletor para a agricultura, optaram por comer pior (no sentido de comida menos diversificada) mas comer mais. Ou seja, uma dieta mais pobre de nutrientes terá seu impacto no crescimento do indivíduo, tal como o contato com doenças durante a infância. Um dos mecanismos de propagação de doenças infecciosas como difteria, sarampo, varíola e gripe, é uma alta concentração de pessoas e contato frequente com outras espécies de animais, e exatamente isso aconteceu na passagem para a agricultura. A população aumentou devido a maior disponibilidade de comida e houve domesticação de animais, que fazia muitas vezes um patógeno já natural de cavalos, bois, porcos, etc... passar para humanos e causar doenças. Além disso, as condições de higiene não eram das melhores, e juntando todos esses três fatores houve a queda na média de altura das pessoas. [2]


E por que isso torna irrelevante quando se coloca o devido contexto? Muito simples, para literalmente tudo na vida existe ônus e bônus. Para os caçadores coletores, o bônus era uma alimentação mais diversificada, menos trabalho e menos contato com doenças, que levava a uma maior altura, mas seu ônus era uma alimentação em menor quantidade, extrema dependência dos recursos da natureza, passar fome quando os recursos de uma região se esgotavam devido a caça constante e mudanças climáticas, e incapacidade de sustentar grandes populações. no entanto, quando os bônus extrapolam muito o ônus, fica evidente que vale o sacrifício. Até mesmo assumir a postura bípede trouxe ônus e bônus, sendo o bônus a liberação das mãos para fazer ferramentas e transportar coisas mas o ônus os comprometimentos na estrutura corporal. Sim, o grande preço que pagamos por assumir a forma bípede é a força da gravidade que acaba por incidir sobre ela permanentemente, levando a sobrecarga em determinado segmento da coluna, podendo causar dores musculares, hérnias de disco lombar, estenoses de canal vertebral ou canal estreito lombar, espondilolisteses, artrite facetária, cistos facetários, entre outros achados. No entanto, não vejo nenhum movimento anti-bipedalismo, pois é inegável os benefícios que gera. [3]


Além disso, outra coisa que precisamos notar é que isso não foi algo permanente, provavelmente valendo apenas para mas primeiras populações do neolítico devido a ruptura com um modelo de vida que já durava 200 mil anos, porém já nas eras seguintes a medida que os problemas citados eram contornados a perca de altura foi compensada. Veja os dados [4]:

Paleolítico Superior e no Mesolítico ( Caçadores e coletores): 157,28 cm para mulheres e 168,6 para homens

Neolítico (Agricultura e domesticação de animais): 151,0 cm para mulheres e 164,5 cm para homens

Idade do Cobre (Agricultura e domesticação de animais): 154,8 para mulheres e 165,5 para homens

Idade do Bronze (Agricultura e domesticação de animais): 155,6 para mulheres e 167,3 para homens

Idade do Ferro (Agricultura e domesticação de animais):158,2 para mulheres e 165,8 para homens


E hoje em dia, após controlarmos as doenças, fatores de exposição, criar vacinas, a média mundial dos homens é de 1.71 m e 1.55 para mulheres, ou seja mais altas que no paleolítico, mesmo com vários povos com diferentes genéticas e condições sociais analisados. Enquanto que alguns povos como na Alemanha, Estônia, Chéquia, etc... a média já superou 1.80 m. Ou seja, as sociedades agricultoras superam os ônus sem abrir mãos dos bônus. Tudo questão de adaptação. [5] Então, meio que fica irrelevante a questão da altura, pois além dela também ocorrer nas sociedades caçadoras e coletoras, ela se deu por custo benefício das primeiras sociedades agrícolas e já está sendo contornada.

Ademais, no que realmente importa que é alimentar um grande número de pessoas, a agricultura trouxe uma vantagem absurda no quesito comer mais. Apesar de não haver um consenso entre os especialistas, a maioria teoriza que justamente a pressão de aumento das populações de caçadores e coletores tenha levado a escolha por uma sociedade agrícola. Ou seja, como já é de conhecimento público, as sociedades no modelo de caçador e coletor não conseguem sustentar grandes populações e por isso as sociedades passadas tiveram que passar para a agricultura. Era melhor comer mais com menos qualidade e sustentar seus filhos e familiares cada vez em maior número do que passar fome e ficar com insegurança alimentatar, a mercê das condições da natureza como caçador-coletor [5]. Um estudo recente aponta justamente isso. [6] Alguns trechos:


"Devido ao nível permanentemente elevado de atividade física e à escassez de recursos ao longo do ano, as carências alimentares foram uma presença constante na vida das pessoas. As crises alimentares prolongadas exigiram mudanças instantâneas nas estratégias nutricionais e reduziram a fertilidade feminina. Além disso, os estilos de vida não sedentários nos tempos pré-históricos também mantiveram o número de crianças a um nível muito baixo. Antes da transição para um estilo de vida sedentário e uma economia produtiva, estes factores limitaram o crescimento populacional e mantiveram a densidade populacional baixa."


"As necessidades energéticas dos seres humanos variam de acordo com a estirpe, e é provável que estivessem num nível elevado para os nossos antepassados. No entanto, devido à falta de segurança alimentar, as pessoas podem ter sofrido deficiências durante curtos ou longos períodos de tempo. O que era normal não era tanto a abundância, mas a escassez recorrente. Devido à insegurança alimentar, os nossos antepassados muitas vezes satisfaziam as suas necessidades energéticas acima do mínimo, para não pôr em perigo a sua existência. A primeira mudança nutricional clara na humanidade começa no Neolítico. No seu início, o modo de vida agrícola pode ser visto como uma crise. Com a introdução da economia produtiva, o tamanho dos grupos sociais aumentou, bem como a densidade populacional. Fontes alimentares mais fiáveis e comunidades estabelecidas foram a causa disto. Economicamente, a produtividade aumentou e a acumulação tornou-se mais previsível. Qualitativamente, contudo, a mudança na dieta levou a deficiências nutricionais, uma vez que dietas anteriormente amplamente mistas foram abandonadas em favor de uma dieta unilateral reduzida a algumas plantas ricas em amido."

Então, resumindo essa parte: O fato de nossos antepassados comerem melhor (no sentido de variedade de alimentos) e serem mais altos é irrelevante, o foco das primeiras sociedades era não morrer de fome e sustentar suas populações crescentes, e isso a agricultura fez muito bem. Os problemas secundários que ela gera estão aos poucos sendo contornados.


Como veremos também, mais a frente os caçadores coletores tinham sério problema em encontrar comida a ponto disso ser a causa de guerras entre eles, e mesmo quando encontravam não conseguiam sustentar populações muito grandes. Ou seja, aí fica fácil. Sustentar só meia dúzia de pessoas vivendo igual símios, quero ver sustentar milhões de indivíduos e ainda promover as maiores revoluções tecnológicas da história da humanidade. Isso só a civilização com agricultura fez. Além de não sustentar grandes populações, a vida como caçador coletor ainda era um inferno, havia altíssima violência interna e guerras com outras tribos, em níveis muito mais elevados que no pós estado. Isso claro, além de estarem extremamente susceptíveis a doenças, e condições que hoje em dia são simples de ser resolvidas como infecções, hérnia de disco, miopia, etc... seriam uma sentença de morte para um caçador coletor. Condições como câncer, diabetes, pneumonia então? Sentença de morte absoluta. Porém o ponto da não sustentação de populações grandes e da violência entre os indivíduos é negado pelo Sr. Lala. E por isso dedicarei dois tópicos exclusivo a eles. Falando do Pinker, discutirei alguns links que ele mandou em algumas de nossas discussões e analisarei se de fato refutam Pinker. Se não refutam, então os ponto de Pinker permanecem de pé e as sociedades caçadoras e coletoras têm a desvantagem de ser mais violentas que o estado. Depois no ponto 2, discutirei principalmente sobre Poverty Point, que segundo ele seria um exemplo de sociedade caçadora e coletora que conseguiu sustentar grande população.

1- "Steven Pinker está certo ou errado sobre as populações sem estado?" Uma das grandes refutações a defesa de modelos de sociedades anárquicas são os dados do psicólogo canadense Steven Pinker, que mostram taxas de guerras e violência muito maior em sociedades sem estado do que com estado. Obviamente o Sr. Nick lala não receberia bem esses dados, pois é uma refutação em cheio a toda sua defesa de uma sociedade anarquista, obviamente ele ia tentar contra argumentar. No entanto, analisando os argumentos de Nick Lala sobre Steven Pinker percebi na verdade apenas um grande desespero em encontrar fontes que refutam Pinker, parece que ele saiu pelo Google digitando "Argumentos que dizem que Pinker está errado", e copiando e colando os primeiros links que viu. Isso porque deixei bem claro em minha argumentação que a fonte que uso é o livro "Os anjos bons de nossa natureza", e logo o primeiro link [1] que ele manda é de um homem chamado Christopher Ryan, que até critica Pinker, mas sobre uma palestra em 2007 em vídeo. Não diz nada sobre o livro. Tanto é que vários argumentos listados não fazem o menor sentido para criticar o livro, como quando ele diz que Pinker só cita 7 sociedades (Jivaro, two branches of Yanomami, the Mae Enga, Dugum Dani, Murngin, Huli, e Gebusi) e que só uma talvez seja caçadora e coletora, quando no livro são citadas 27 sociedades sem estado que nada tem a ver com as citadas por Ryan. Ou quando ele diz que Pinker não leva em consideração a diferença de caçadores coletores para caçadores horticultores, sendo que na palestra de 2007 pode não ter citado, mas no livro de 2011 não só cita como separa 10 sociedades caçadoras horticultoras e 9 caçadoras e coletoras, provando que a média tanto de violência interna da sociedade quanto guerras era mais alta que sociedades estatais.





Ou quando ele diz que em nenhum momento Pinker fala sobre bonobos, quando na verdade ele diz tudo isso e muito mais no livro: " A ideia de que o homem evoluiu de um ancestral pacífico semelhante ao bonobo tem dois problemas. Um é que é fácil empolgar-se com essa história do primata hippie. Os bonobos são uma espécie ameaçada que vive em florestas inacessíveis em partes perigosas do Congo, e muito do que sabemos sobre eles provém de observações de pequenos grupos de juvenis bem alimentados ou de jovens adultos em cativeiro. Muitos primatólogos suspeitam que estudos sistemáticos de grupos de bonobos mais velhos, mais famintos, mais populosos e mais livres nos mostrariam um quadro mais sinistro. Descobriu-se que, na natureza, os bonobos caçam, confrontam-se belicosamente e ferem uns aos outros em lutas, algumas fatais. Portanto, embora os bonobos sejam inquestionavelmente menos agressivos do que os chimpanzés comuns — nunca fazem incursões de ataque, e as comunidades podem misturar-se pacificamente —, cem por cento pacíficos eles com certeza não são. O segundo e mais importante problema é que, muito mais provavelmente, o ancestral comum das duas espécies de chimpanzé e do homem foi mais parecido com um chimpanzé comum do que com um bonobo. Os bonobos são primatas muito estranhos, não só no comportamento mas também na anatomia. Têm a cabeça pequena e com formato infantil, o corpo mais leve, menos diferenças entre os sexos e outras características juvenis que os distinguem não só dos chimpanzés comuns, mas também dos outros grandes primatas (gorilas e orangotangos) e também dos fósseis australopitecinos, que foram ancestrais dos seres humanos. A anatomia distintiva dos bonobos, quando posta na grande árvore filogenética dos primatas, sugere que eles foram afastados do esboço genérico dos grandes primatas pela neotenia, um processo que ressintoniza o programa de crescimento de um animal para preservar certas características juvenis na fase adulta (no caso dos bonobos, características do crânio e do cérebro). A neotenia frequentemente ocorre em espécies que foram domesticadas, como no caso do cão, que divergiu do lobo, e é um caminho pelo qual a seleção pode tornar os animais menos agressivos. Wrangham afirma que o principal motor na evolução dos bonobos foi a seleção para a menor agressão nos machos, talvez porque os bonobos procuram alimento em grandes grupos sem indivíduos solitários vulneráveis, portanto não há oportunidades para que a agressão coalizacional seja compensadora. Essas ponderações sugerem que os bonobos são destoantes entre os grandes primatas e que nós descendemos de um animal que era mais semelhante ao chimpanzé comum." Enfim, fica claro nesse ponto que Nick Lala usou um link aleatório sobre Pinker, não se atentou que era uma resposta a uma palestra e não ao livro dele que eu citei. Esse ponto é completamente irrelevante para refutar a tese do livro do Steven Pinker. Gostaria no entanto de pontuar uma coisa antes de continuar: se repararmos em nenhum momento foi questionado os dados do Steven Pinker, em nenhum momento se mostrou que as taxas de assassinato e guerras estariam erradas, apenas que os grupos que ele designa não seriam caçadores coletores. Porém sendo caçadores coletores ou caçadores horticultores é irrelevante para a tese de Pinker, pois no fim o argumento é que a falta de estado geraria os altos níveis de violência e não o fato de ser uma ou outra. Pinker inclusive explica os mecanismos de incentivo a violência em sociedades com e sem estado, então quando se usa de argumento "sociedades sem estado tendem a ser mais violentas" apenas dizer que uma era X ou Y não muda esse ponto. Que fique claro que o erro não é do autor, mas sim do Nick Lala que não se atentou que era uma resposta a uma palestra e não ao livro que citei. Continuando sua desesperada argumentação, Nick Lala agora cita um texto que apenas questiona se a revolta de An Lushan foi de fato a pior de todas as atrocidades cometidas por seres humanos [2], pois os dados de um evento tão antigo são imprecisos por incapacidade dos governos da época fazerem censos. Porém apenas pontuar esse detalhe passa longe de refutar toda tese de Pinker e sua compilação de outros dados, e mais longe ainda de provar alguma coisa sobre os caçadores coletores serem menos violentos. A menos que o objetivo aqui seja apenas o uso da falácia do envenenamento do poço, algo como "Você viu que o Pinker errou esse dado? Logo toda argumentação dele está errada!", e nesse caso é, como já dito, uma falácia. Ou prova algo de fato sobre o caçadores coletores que refuta o ponto do Pinker, ou esse ponto se torna totalmente irrelevante.

O próximo link de Nick Lala é de um site com viés claramente anarquista [3], o que não seria problema se eles usassem de fatos dados que refutassem Pinker, porém passam longe disso. Na verdade eles apenas redefinem o significado de violência, e não para algo que faça sentido mas sim para uma definição muito particular que reflete apenas os valores anarquistas. Dizem eles: "Ao invés da tese liberal, sugerimos que o critério que define uma ação violenta é: toda ação que reforça um sistema de controle social numa sociedade hierárquica." e também que: "Mesmo uma sociedade que não matasse ou fizesse sofrer nenhuma pessoa ou animal ainda seria violenta se ela ainda dependesse de um sistema de controle social para forçar as pessoas a se adaptar a esse modelo ideal.". Aí fica fácil, se você redefine violência para algo que coincidentemente bate com sua visão de mundo obviamente todas sociedades que você discorda serão violentas. Da mesma maneira um anarcocapitalista que vivesse em uma sociedade de anarquistas de esquerda e quisesse ser dono de um pedaço de terra iria ser reprimido pela sociedade de propriedade coletiva, e poderia alegar estar sofrendo violência na visão dele. Fato é que Pinker define muito bem o que ele quer dizer com violência, se a sua definição de violência é diferente, sendo apenas algo que corrobore sua ideologia como a única não violenta, aí é outra história e de pouca relevância para a atual discussão.

Prosseguindo, Nick Lala mandou um link com nada mais nada menos que 13 textos, supostamente atacando Steven Pinker [4]. Infelizmente não é possível ter acesso a todos gratuitamente e não estou a fim de pagar pelos artigos, mas farei a análise de 3 deles para ver o nível e se de fato levantam questionamentos válidos, ou melhor: se de fato refutam Pinker. São eles: "Getting Medieval on Steven Pinker Violence and Medieval England", " The Inner Demons of The Better Angels of Our Nature" e " Does Better Angels of Our Nature Hold Up as History?".

Primeiro vamos ver o que diz " Getting Medieval on Steven Pinker Violence and Medieval England" da autora Sara M. Butler. Ela apresenta vários argumentos, e o que mais me interessa é sobre os dados. Ela inicia a argumentação fazendo a velha crítica de que dados sobre sociedades antigas são imprecisos, pois a forma como era contabilizada a população era diferente, por exemplo em alguns casos só se contava os pais de família, excluindo mulheres e crianças, em outros se excluía pessoas da Igreja, etc... Porém como já dito sobre An Lushan, isso é pouco relevante. Querendo ou não, são os melhores dados que temos, e se levarmos em conta outros fatores ficam equivalentes. Por exemplo, implicando que a população fosse maior por não contar crianças e mulheres, o número de assassinatos reais provavelmente também era maior que os contabilizados, pois nem todos os crimes eram descobertos ou registrados. O próprio texto diz que 72% dos criminosos da Inglaterra fugiam devido a haver baixas forças policiais. Assim, fica equivalente. Depois ela levanta o ponto que os autores que Pinker escolheu para levantar suas estatísticas, se basearam em acusações e não veredictos para levantamento dos crimes. Ela assume que isso era uma boa estratégia devido ao alto número de criminosos que fugiam e ao fato dos juízes medievais serem relutantes em condenar. Porém, para ela isso seria um problema pois, dada a alta taxa de fuga, aqueles poucos acusados que permaneceram para serem julgados provavelmente escolheram fazê-lo porque ou eram inocentes ou eram culpados, mas não o suficiente para serem condenados por um júri de seus membros pares até a morte. Porém tal raciocínio não faz muito sentido, pois podem ser também culpados que tentaram fugir mas foram pegos e levados a julgamento, culpados que queriam se passar por inocentes, entre várias outras possibilidades. O problema de considerar o acusado culpado mesmo que ele tenha sido absolvido é irrelevante quando sabemos os dois pontos anteriores que ela mesma diz que 72% dos criminosos conseguiam fugir e juízes eram relutantes em condenar. Há, na verdade, uma maior possibilidade de um culpado ser declarado inocente que o contrário. Quando ela diz coisas como "pessoas poderiam manipular os casos para parecerem vítimas" ela esquece que coisas assim podem acontecer sempre, e nem por isso devemos descartar as estatísticas. Quando diz que o significado de alguns crimes poderiam ser diferentes, como o estupro, ela na verdade dá um tiro no pé, já que sociedades mais arcaicas poderiam ter tolerância maior com violência sexual contra mulheres que as atuais. Se uma mulher no casamento fosse forçada a fazer sexo com o marido, isso poderia não ser entendido como estupro por ela ser casada e ser o dever dela, ao passo que a sociedade atual é tido como estupro. Assim, as taxas do passado poderiam ser maiores ainda. Ou quando ela fala sobre os crimes de clérigos muitas vezes não serem contabilizados é outro tiro no pé, pois se fossem as taxas de crimes seriam maiores ainda. No fim, a argumentação dela pode na verdade provar os pontos de Pinker se a violência for maior ainda, e ao que tudo indica, segundo os próprios argumentos dela, eram mesmo. Nada do que ela diz torna os dados da violência na Idade Média não confiáveis, e é importante pontuar que ela se limita a Inglaterra, enquanto Pinker traz dados de toda Europa.

Além do mais, se o problema dela é com Gurr e Eisner (autores citados por Pinker), que fique ela e o Sr. Nick Lala sabendo que há muitos outros autores que sustentam essa tese já há muito tempo. Alguns deles são os autores Eric A. Johnson e Eric H. Monkkonen, autores de "The Civilization of Crime: Violence in Town and Country since the Middle Ages" em parceria com vários outros historiadores do crime, que já em 1996 mostraram como consenso acadêmico a queda na violência na Europa desde a Idade Média, mostrando uma queda nas taxas de homicídios de 33/100 mil habitantes na Suécia no século XV para 1.5/100 mil no século XIX, e de 50/100 mil habitantes em Amsterdã no século XV para 6/100 mil no século XIX, por exemplo. Nesse mesmo livro é citado um estudo de James A. Sharpe que mostra uma queda de 18 a 23 homicídios/100 mil habitantes no século XIII para 1/100 mil habitantes no século XX na Inglaterra [5]. Ou seja, um estudo prévio ao estudo de Eisner de 2003, que é o citado por Pinker e que a autora implica. A tendência de queda das taxas de homicídio desde a idade média é clara, e independe do autor. Prosseguindo, vamos agora ao segundo artigo "The Inner Demons of The Better Angels of Our Nature" de Daniel Lorde Smail. O primeiro argumento do autor é sobre as torturas na Idade Média, que segundo ele eram um número per capita baixo. O autor não oferece nenhum dado no texto que sustente isso, e de qualquer forma passar de raro para inexistente já é um grande avanço. Depois o autor faz um grande espantalho, alegando que o único padrão de Pinker para definir que a violência caiu foram mortes violentas, quando na verdade são citadas torturas mais comuns no passado que hoje (em governo democráticos inexistentes via lei), maus tratos com crianças, estupros, além de expor casos como escravidão, permitida no passado e proibida hoje em dia. É até curioso ele citar posteriormente uma seção de Pinker que fala até sobre animais e ainda sustentar que mortes são o único padrão de Pinker. Pra quem não leu o livro vai achar essa parte no mínimo estranha, pra quem leu sabe que ele está mentindo e por isso se contradiz.


O autor prossegue com um argumento no mínimo confuso. Ele diz que o ideal seria não analisar a violência sob o ponto de vista do agressor, mas sim da vítima. E que isso permitiria ver detalhes da violência estrutural que grupos como minorias étnicas e mulheres passam todos os dias, porém sem afirmar que esse tipo de violência aumentou nos últimos tempos. Ora, se não aumentou, qual relevância de cita-lo? E mesmo levando isso em conta, tenho certeza que minorias étnicas sofrem bem menos hoje do que em tempos que elas eram ou literalmente escravizadas ou segregadas por lei, como os negros do século XV ao XIX e judeus em plena Idade Média, respectivamente. E sobre as mulheres, pior ainda. Se hoje elas sofrem algum tipo de violência estrutural com certeza não é pior que uma época que elas além de sofrerem a mesma violência estrutural, eram proibidas de trabalhar fora, não podiam usar roupas curtas demais, não podiam nem escolher com quem se casar, apanhavam dos marido sem nenhum aparato legal contra isso e que se não gritassem muito alto em uma situação de violência sexual, poderiam ter seu caso negligenciado. Achar que as vítimas sofrem mais hoje ou sofrem igual em outras épocas seria (além de desonestidade) atestar o fracasso da luta pelos direitos civis e movimento feminista. Mesmo sob o ponto de vista da vítima a violência claramente diminuiu. Que fique claro que Pinker nunca disse que a violência inexiste ou que o mundo atual é perfeito, porém indiscutivelmente é melhor que os tempos passados. Porém vamos nos atentar a uma certa frase do autor: " My claim is that the decline in violent death since the Middle Ages may seem less important when measured against a baseline comparison of the enduring forms of structural violence. However awful violent death might be, after all, it is experienced at a rate far lower than the routine injuries and humiliations of structural violence" Como ele não especifica essa violência estrutural, ele basicamente abre brecha para interpretarmos que sofrer situações de preconceito no dia-a-dia como um negro ser seguido nas lojas ou uma mulher receber cantadas de pedreiro é pior do que ser assassinado. Sem querer desmerecer o quão ruins essas situações podem ser, o amigo leitor há de concordar que ser assassinado é pior que isso. Por mais que uma seja experimentada uma vez e a outra todos os dias, uma literalmente elimina a vida do indivíduo e causa dano permanente, enquanto o outro, por mais que seja uma situação chata, causa no máximo um incômodo, sem maiores danos que isso. Seria como dizer que é pior levar um leve cutucão por dia todos os dias até o fim da vida do que ser esquartejado. Então, ou ele explica melhor essa parte ou vai deixar essa brecha bizarra no ar.

Depois ele segue dizendo sobre dados de obesidade, estresse e saúde em geral, mas isso foge bem à discussão. Novamente, Pinker não disse que o mundo atual é perfeito, ele foi bem claro no que ele acredita que estamos evoluindo, e em nenhum momento se dispõe a tentar dizer que as pessoas hoje seriam menos estressadas ou mais felizes da história. E pra piorar, dados objetivos mostram que a fome e a pobreza nunca estiveram em níveis tão baixos na história.





Talvez por isso ele faz questão de salientar a questão da pobreza relativa e que isso pode causar sentimentos de tristeza em pessoas mais ricas objetivamente porém mais pobres em relação a outras. Sinceramente, isso começa a soar como desespero argumentativo. Pinker não disse que não temos problemas ou que a vida das pessoas vai ser boa em 100% dos aspectos, e classificar como violento um sistema que reduz a pobreza, faz ninguém passar fome e ainda menos propenso a ser assassinato porque a pessoa se sente mais infeliz por ser mais pobre relativamente a alguém mais rico é banalizar o termo, é literalmente dizer que se algo me incomoda logo é violência e logo a sociedade é violenta. Também é demonstrar que seu senso de prioridades de resolução de problemas está bem ruim. Isso claro, implicando que o mesmíssimo problema não ocorria no passado. Não satisfeito com esse chorume argumentativo, o texto vai ficando cada vez pior a ponto dele dizer isso: "And now to perhaps the most important question of all: why should it matter that violence has declined? At the heart of Better Angels, you will find the idea that people are safer now than they were in the past, and for that reason they are happier." Pergunte a qualquer pessoa que habita uma zona de guerra ou um estado muito violento a importância da segurança. Só o fato de diminuir as chances de você ser literalmente morto, ter seus pertences roubados ou ter entes queridos sofrendo nas mãos de criminosos já é um avanço incomensurável. Além dessa visão no mínimo torpe de mundo,é óbvio que é mais fácil ser feliz quando tudo ao seu redor é bom do que quando falta comida e a qualquer momento pode se levar um tiro pela alta violência local. Não à-toa, estudos mostram que o povo mais feliz do mundo são da Finlândia e não da República Centro Africana, e curiosamente os povos mais felizes do mundo são dos países mais ricos e seguros [6]. O próprio autor novamente se refuta ao dizer que nosso cérebro tem tendência de manter os mesmo níveis de felicidade, mesmo que passe por momentos de grande alegria ao ganhar na loteria ou de grande tristeza ao perder um ente querido, por exemplo. Se assim funciona então a sociedade atual não poderia estar deixando as pessoas mais tristes, afinal estando em uma segura sociedade ocidental ou na violenta Somália os níveis de felicidade estariam os mesmos. Assim, o fator felicidade não poderia ser usado para mensurar violência, seria um fator completamente a parte disso e nem participa dessa discussão. De qualquer forma, é melhor estar igualmente feliz sem a possibilidade de ser morto do que com alta possibilidade de tal.

Novamente, é importante frisar que (apesar de alguns dados corroborarem isso) Pinker não alega estarmos na época com mais bem estar da humanidade, mas apenas a mais segura. É importante frisar também o objetivo e a utilidade dos dados de Pinker, se Ismail esperava uma espécie de livro de auto ajuda e guia para a felicidade se enganou muito. Os dados de Pinker não servem para a busca da felicidade, mas sim para indicar que estamos melhores que no passado e o que nos conduziu a essa melhora no sentido de pacifismo, e que se queremos menos genocídios, guerras, violência no futuro o que devemos fazer para tal fim. Ou, no meu caso, refutar pessoas com ideias imbecis que só levam ao retrocesso da humanidade. Enfim, acho que me delonguei muito nessa parte, o autor claramente fugiu totalmente da discussão e passou bem longe de refutar Pinker. Acredito que ele e o Sr. Lala devam passar uns dias na República Democrática do Congo para entender a importância da segurança na vida das pessoas. Esse texto foi bem ruim na verdade. Por fim, analisaremos o último texto, "Does Better Angels of Our Nature Hold Up as History? " de Randolph Roth. Ele argumenta três razões pela qual acredita que os argumentos de Pinker estão errados: A- As evidências reunidas até hoje pelos historiadores não mostram uma declínio da violência interpessoal ou coletiva desde a era medieval; Para sustentar esse ponto, o autor alega que Pinker erra ao colocar o século XX como não sendo o mais mortífero da história. Porém isso de fato não vai mudar nada, pois não muda que as taxas de violência interna das sociedades estavam nos níveis mais baixos da história até então e nem que a frequência de guerras diminuíram, outros gráficos de Pinker provam esse ponto. Pinker rebate bem esse ponto citando a questão do horizonte militar,que várias incursões (que eram mais comuns no passado) são deixadas de lado e apenas ações militares organizadas sobrevivem para contar a história. Além disso, o crítico de Pinker se baseia em números absolutos, o que Pinker já mostrou ser um erro dada a população muito maior dos tempos atuais que do passado. Para ser honesto, Roth até alega que em números proporcionais também não é provado o ponto de Pinker, mas creio ter sido uma má interpretação de um gráfico (o 5.3).





Lá vemos claramente um número maior de grandes atrocidades que mais mataram proporcionalmente (por 100 mil pessoas) estão mais concentradas no passado, enquanto um maior número de conflitos que mataram proporcionalmente menos estão concentrados no presente. Devemos lembrar que esse é também um gráfico sobre a frequência apenas de grandes massacres e não de guerras, a frequência de guerras já foi provada estar reduzindo. O fato dos maiores massacres (em números absolutos) em menor tempo estarem boa parte no século XX se deve obviamente a melhor tecnologia de matar.



E aqui não há contradição alguma com a defesa de Pinker de que grandes massacres podem ocorrer sem auxílio de grande tecnologia, há uma diferença enorme entre "pode ocorrer um massacre de milhões sem auxílio de tecnologia" com "é mais provável que ocorra um massacre com auxílio de grande tecnologia". Se com uma arma de fogo um único indivíduo consegue fazer um massacre de quase 20 pessoas, imagine o que um exército com armas não consegue fazer. Pode sim ocorrer um massacre com uso de facões, como aconteceu em Ruanda, mas é mais fácil que ocorra com uso de metralhadoras. Porém, mesmo com maior tecnologia de matar, ainda sim a frequência de guerras diminuiu e matam proporcionalmente menos. Fica difícil estipular o século XX como o pior da história assim, Pinker continua certo. A dificuldade de interpretação dos gráficos continua quando ele cita uma figura de um estudo de Eisner que para ele não mostra uma queda na taxa de homicídios na Europa. Porém se repararmos o gráfico veremos claramente que, apesar dos picos durantes dois períodos, existe uma concentração maior de pontos próximos a taxas de 30/100 mil habitantes nos tempos passados e uma concentração maior de pontos próximos a taxa de 0 a 10/100 mil habitantes próximos dos anos 1800. Se isso não indica uma queda nas taxas de homicídios interno da sociedade eu não sei o que indica. Acredito que o autor precisa trabalhar melhor a interpretação de tendências mesmo sob eventos atípicos.


Depois ele alega que os motivos para os homicídios na Europa Medieval não eram impulsivos pois se baseia que boa parte foram por roubos, embocadas e violência sexual, por isso não seria impulsivo e sim calculados e predatórios. Aqui há uma má interpretação do autor do que é impulsivo e premeditado. Agir de forma animalesca, recorrendo a assassinatos e roubos do que seguir a vida em sociedade é uma forma de agir por impulso, mesmo que seja planejado. Pinker passa boa parte do livro explicando os estímulos para a agressão, e ele passa grandemente pelos custos para a agressão, que são menores em sociedades sem estado pois só teria que vencer a resistência da vítima, enquanto que com estado teria que vencer também a resistência do estado. Uma vez com custos reduzidos as pessoas estariam mais dispostas a não seguir as regras sociais de propriedade, agindo mais próximo do seu estado de natureza, ou seja agir por impulso. Esse ponto definitivamente não refuta Pinker, foi apenas mais uma interpretação ruim do que é dito. Em sequência ele se contradiz, pois anteriormente havia dito que não houve queda na taxa de homicídios por 100 mil habitantes, agora diz que caíram mas foram a partir do século XVII. Na figura que ele posta há muitos pontos, o que dificulta um pouco a análise, mas é possível perceber uma certa queda anterior ao século XVII. Em outros gráficos também compilados por Eisner a queda anterior ao século XVII é mais perceptível, com alguns indicando uma queda de 71/100 para 38/100 mil habitantes na Itália, de 56/100 para 6/100 mil habitantes na Suíça, de 32/100 mil habitantes para 7/100 mil na Espanha, de 20/100 mil habitantes para 8/100 mil na Holanda e 16/100 para 8/100 mil habitantes na Bélgica de 1375 para 1575. [7] Claro que ele pode alegar que 1375 foi um período de pico de violência, mas no próprio gráfico que ele postou é perceptível que antes de 1375 há mais pontos próximos à taxa de 30/100 mil que nos tempos mais modernos. Os pontos que ele cita sobre como o estado gera confiança nas pessoas, crença que hierarquias são legítimas e que os governos são estáveis são pontos também levantados por Pinker, por exemplo quando ele explica porque não acredita que um estado mundial daria certo. O trecho de Pinker: " Hoje a campanha pelo governo mundial persiste principalmente entre excêntricos e fãs de ficção científica. Um problema é que um governo, para funcionar, depende de um grau de confiança mútua e de valores comuns entre os governados, coisa que não é provável existir no planeta inteiro. " É curioso como o autor parece ver uma contradição entre a tese que o estado civiliza de Pinker com a que ele desenvolveu, e até cita os números da queda da URSS e aumento da violência nesse período. Não há contradição entre os dois. Porém, sobre o processo civilizador, o autor compara épocas diferentes sem perceber que as mais pacíficas sociedades eram também as mais civilizadas de seus respectivos tempos. O primeiro ponto que acho ser relevante de se considerar é que com o avanço da medicina, muitas agressões que no passado resultaram em morte seriam tratadas hoje em dia. Porém tal afirmação sem algum estudo mostrando que as taxas de agressões se mantiveram no mínimo estáveis desde a idade média é um ponto não comprovado. B - As forças históricas que Pinker vê como impedimentos à violência podem fomentar a violência e também suprimi-la; O autor nesse ponto inicia dizendo que o mesmo estado que pode pacificar as pessoas pode causar guerras, bombas atômicas, e recrutar grandes exércitos. Porém, como Pinker provou, mesmo com essa possibilidade os estados autoritários é que estariam mais propensos a guerra, e isso vai contra os ideais liberais. Estados democráticos entram menos em guerra e por isso diminuíram também esse ponto negativo dos estados. Segundo ele, o mesmo comércio que levou a queda das guerras entre estados também levou a colonização, escravidão, etc... Porém Pinker provou que antes da era democrática o comércio mundial era ínfimo, e o mundo dominado por estados autoritários que podem tomar medidas anti comércio. É importante não tirar as falas de Pinker do contexto, ele fala de uma tríade que se juntas criam um ciclo que se retroalimenta visando a paz: estado, comércio e democracia. Apenas cada um deles sozinho pode ou não reduzir a violência. No caso dos tempos da colonização, tínhamos estado e comércio, mas não democracia. Após a era democrática não só os conflitos diminuíram como o comércio mundial disparou, como o próprio Pinker provou no livro. Depois, tenta colocar a culpa do genocídio armênio e holocausto no cosmopolitamismo, sendo que tais ações são resultados de forças contra liberais que o prórpio Pinker explica no livro. O próprio Roth sabe disso e inventa a desculpa que um depende do outro para crescer, sendo que não é verdade, existir pensamento anti iluminista sempre vai existir, porém culpar o iluminismo pelas ações anti iluministas é que não faz o menor sentido. Na verdade todo esse ponto sobre violência contra minorias, mulheres e outros grupos pode ser resumidos em dois grandes pontos: primeiro que mesmo que haja reação de partes antes opressoras, isso não aumenta significativamente os níveis de violência. Ou houve aumento dos níveis de violência nos EUA e Europa Ocidental para mais de 20 homicídios por 100 mil habitantes e não ficamos sabendo? Segundo que, como já dito, não faz o menor sentido atribuir o que forças contrárias ao iluminismo como fruto dele. A violência contra mulher, minorias étnicas e até as grandes atrocidades promovidas por estados já ocorriam antes dele e foram por ele suprimidas. Se essas forças crescerem novamente e suprimirem o iluminismo e aumentarem os níveis de violência, não refuta Pinker, muito pelo contrário. Confirma que as forças citadas por ele promovem a paz e o contrário promove a violência. O próprio Pinker assume que o processo civilizador pode ser revertido a qualquer momento. C- A primatologia contemporânea, a neurologia e a endocrinologia, em vez da psicologia evolutiva, podem conter a melhores chaves para entender como as circunstâncias afetam o corpo humano e sua níveis hormonais de maneiras que têm a capacidade de facilitar ou impedir a agressão; Nesse ponto ele apenas diz que em dadas situações de anomia social os primatas podem liberar mais hormônios que causam maior propensão a violência, nada que refute Pinker pois ambas teses não são contraditórias como já dito antes. Diante de tantos problemas de análises, concluo que esse autor passa bem longe de refutar Pinker. Porém antes de encerrar de vez essa parte, gostaria de apontar o que acontece quando se usa a estratégia desesperada de argumentos como o Sr. Nick Lala fez. Para quem não sabe, Lala é um anarquista de esquerda, rejeita o estado, a civilização e até a agricultura, e esses e últimos autores que ele usa para criticar Pinker não o são, e especialmente o último aponta a necessidade do estado para a pacificação da sociedade. Ou seja, Roth pode discordar um pouco do Pinker, mas com certeza discorda muito mais do Nick Lala. Assim, caso seja confrontado com alguém citando Pinker para mostrar que sociedades sem estado são mais violentas, usar Randolph Roth não vai ajudar muito em refutar isso. Concluindo essa parte, vimos que nenhum dos autores de fato refutou Pinker. Quando não é uma má interpretação dos dados eles fogem completamente do tema. Não acredito que os outros textos sejam tão diferentes assim, sendo assim não vejo necessidade de ir loucamente atrás deles. Vale lembrar que o livro de Pinker se tornou best seller, extremamente famoso no mundo inteiro. É natural que vá surgir várias críticas a ele, como diz o ditado: "Prego que se destaca é que leva martelada". Porém nem todas obviamente serão boas ou de fato o refutarão, como de fato nenhuma dessas refutou. No fim, sair procurando um monte de links que criticam Pinker só por criticar vai ser é um belo tiro no pé, pois esses autores podem discordar bastante da visão de mundo de quem pesquisa e discordar de Pinker por motivos completamente diferentes. É importante ressaltar que Nick Lala postou uma série de trechos com críticas a Pinker, porém não colocou nenhum link e eu não achei os trechos. Então não foi possível refutar esses pontos. Se ele quiser mandar os links eu posso sim analisar as críticas. Outra coisa importante de ressaltar é que as fontes de de Nick Lala falam apenas da Idade Média, não trouxe dados nem fontes sobre o modelo que ele realmente defende, que é os caçadores coletores. Sobre isso temos uma vasta literatura comprovando a maior violência entre os caçadores além dos dados de Pinker. O livro "Guerra Antes da Civilização" de Keeley, junto com uma verdadeira enxurrada de estudos arqueológicos e bioarqueológicos que ele inspirou, mostrou um quadro extremamente violento e guerreiro das sociedades de caçadores-coletores e horticultores primitivos. Foram estimadas taxas médias de morte violenta de 25% para homens e 15% para a população geral. No cemitério de uma aldeia dos índios Oneota, por exemplo, que viviam ao longo do Rio Illinois 200 anos antes da chegada de Colombo, encontraram-se os restos mortais de 264 pessoas. Ao menos 43 delas, ou 16%, tinham morrido de forma violenta. Em outra aldeia, em Crow Creek, na Dakota do Sul, arqueólogos encontraram uma cova coletiva contendo os restos mortais de mais de 500 homens, mulheres e crianças que haviam sido assassinados, escalpelados e mutilados durante um ataque a sua aldeia por volta de 1325 d. C. Também foram encontrados esqueletos humanos em um cemitério do Paleolítico Posterior na localidade de Gebel Sahaba, na Núbia Egípcia, datando de cerca de doze mil a quatorze mil anos atrás, demonstram que a guerra lá tinha sido comum e particularmente brutal. Mais de 40% dos homens, mulheres e crianças enterrados naquele cemitério tinham projéteis de ponta de pedra associados a seus ferimentos ou encravados nos seus esqueletos. Diversos adultos possuíam ferimentos múltiplos (alguns chegavam a ter vinte), e os ferimentos encontrados nas crianças foram todos na cabeça ou pescoço – ou seja, golpes de execução. O escavador Fred Wendorf estima que mais da metade das pessoas enterradas ali morreu de maneira violenta. Na Europa Ocidental amplas evidências de mortes violentas foram descobertas nos restos dos caçadores-coletores do final do período Mesolítico (de dez mil a cinco mil anos atrás). Um dos exemplos mais horríveis é fornecido pela Caverna Ofnet, na Alemanha, onde dois baús de “troféus” de crânios foram encontrados, dispostos como “ovos em uma cesta”, compreendendo as cabeças decepadas de 34 homens, mulheres e crianças, a maioria com múltiplos orifícios em seus crânios, produzidos por machados de pedra”. Mesmos sociedades de caçadores coletores antes consideradas pacíficas como os esquimós do Cobre, os esquimós Ingalik, os gebusis das terras baixas da Nova Guiné, os boxímanes !Kung, os pigmeus Mbuti da África Central e os aborígines que viviam na costa ocidental da Tasmânia só ficaram pacíficas após a imposição de uma autoridade estatal. Antes disso, tinham altissímas taxas de violência, como os !Kung do deserto do Kalahari, tinha exibido no passado, antes da imposição da autoridade estatal, taxas de homicídio quatro vezes maiores que a dos Estados Unidos em 1990. Igualmente, encontrou-se que os Inuítes do Meio-Ártico Canadense, tinham no passado taxas de homicídio três vezes maiores que a dos já não tão pacíficos !Kung. Entre aborígenes australianos, algo em torno de 80–100 homens, mulheres e crianças foram mortos em um ataque em 1875 em Running Waters, no rio Finke, na Austrália Central. Em retaliação, todos menos um do grupo de ataque de 'talvez cinquenta a sessenta guerreiros' foram mortos nos três anos seguintes, assim como alguns de seus familiares. Isso indica que cerca de 20% das duas ‘tribos’ identificáveis foram mortas nessa troca” Os esquimós do Noroeste do Alasca lutaram contra os esquimós do Sudoeste do Alasca e da Sibéria, e também com os Índios Atabascanos do interior. Eles lutavam tanto entre si que pesquisadores apontam que havia guerra pelo menos uma vez por ano na região. A guerra era algo tão comum para eles que tinham até uma “equipe de assalto” que podia conter até 50 homens, embora a norma fosse 15 ou 20. O etnógrafo W. Lloyd Warner (1937) realizou extensas entrevistas com o povo aborígene Murngin da Terra de Arnhem no Norte da Austrália, que vivia num território rico em recursos e que tinha entrado em contato com os Europeus apenas na década de 1920. Baseando-se nos relatos orais dos aborígenes, ele reconstruiu os episódios de guerra que a tribo tinha vivenciado no final do século XIX. Warner estimou que, de uma população total de 800 homens em “idade de combate”, 200 haviam morrido em batalha ao longo de duas décadas. Se lembrarmos que duas décadas são quase uma geração, estas cifras se traduzem numa taxa de morte violenta incrivelmente alta (25%). Em 1803, somente 15 anos depois que os britânicos chegaram à Áustrália, um inglês chamado William Buckley (1780-1856) foi levado ao novo continente para cumprir sentença na colônia penal de Port Philip, agora Melbourne. Ele conseguiu escapar logo depois e viveu durante 32 anos com uma tribo aborígene. Ele aprendeu a sua língua e participou em suas atividades diárias. Até então nenhum antropólogo havia conseguido atingir tamanha familiaridade. Após voltar à civilização, Buckley relatou as sua experiências: "Buckley relata algumas dezenas de cenas de batalha, bem como muitas rixas, ataques e emboscadas letais, constituindo um elemento central do modo de vida tradicional dos nativos. Ele descreve suas armas de guerra em grande detalhe: porretes, lanças, “bumerangues de guerra”, bastões de arremesso e escudos. As tribos geralmente consistiam de 20 a 60 famílias cada e eram igualitárias, sem chefes. Houve luta em todos os níveis: individual, familiar e tribal. Alguns dos encontros intertribais que Buckley registrou envolveram grandes números: cinco tribos diferentes reunidas para a batalha; uma batalha e ataque contra uma tribo inimiga intrusa, 300 fortes; vários encontros intertribais em grande escala, o último um ataque com muitos mortos; dois outros encontros, o segundo contra um grupo de guerra de 60 homens. O canibalismo cerimonial dos vencidos era costumeiro. Buckley relatou que o ataque em grande escala era a forma mais mortal de violência e frequentemente envolvia massacres indiscriminados: “As disputas entre os Watouronga, de Geelong, e os Warrorongs, de Yarra, foram ferozes e sangrentas. Acompanhei os primeiros em seus ataques aos últimos. Ao atacá-los repentinamente durante a noite, destruíram sem piedade homens, mulheres e crianças”"

Entre os Engas da Nova Guiné, a guerra interclãs, houveram 50 guerras em 34 anos, baseada em ataques-surpresa e que tinha todas as características da guerra total. Já com os ianomanis, o estado de guerra era tão grande, que os nativos não podiam deixar suas populações diminuírem muito, pois do contrário se tornariam muito pequenas, e as aldeias pequenas eram muito vulneráveis a ataques de aldeias maiores e serem completamente dizimadas. Elas nunca podiam cair abaixo do limite de 40 indivíduos, o tamanho mínimo para montar uma “equipe de assalto” (raiding party) de 10 homens adultos. Estima-se que 24% dos homens Ianomâmis morriam de forma violenta. Portanto, quando as populações ficavam muito pequenas, eles se uniam a tribos aliadas e tinham de aguentar disputas e conflitos com membros dessas tribos aliadas, pois do contrário seriam alvo fácil das tribos inimigas. Enfim, os exemplos são quase infinitos [8] [9]. E se mesmo assim ele não estiver convencido, devo mostrar um estudo que analisou tanto argumentos que defendem a maior violência entre os caçadores coletores quanto a menor, e chegou a conclusão que eles eram sim mais violentos [10]. As razões para as guerras iam desde disputa por recursos, território, vinganças e disputa por mulheres. Inclusive, o rapto de mulheres em tribos dominadas era extremamente comuns, a ponto de entre os Ianomâmis, que 20% das mulheres adultas nas aldeias “centrais” tinham sido sequestradas ou aliciadas por outras aldeias. Nas Pequenas Antilhas a captura de mulheres era aparentemente tão generalizada que desenvolveu-se por lá uma situação linguística no mínimo peculiar: relatos dos primeiros conquistadores espanhóis atestam que nas ilhas maiores das Pequenas Antilhas os homens falavam a língua caraíba e suas esposas falavam aruaque, pois grande parte delas tinha sido capturada das tribos aruaques, mais fracas, residentes em ilhas menores nas proximidades. Fica claro então que os caçadores coletores não eram nem um pouco pacíficos, provavelmente só não matavam mais que as guerras atuais porque a população era menor e os meios tecnológicos de matar eram bem mais rudimentares. Ademais, respondendo a pergunta do tópico: Pinker está certo! Sociedades sem estado tendem a ser mais violentas, e isso também vale para os caçadores-coletores. Fontes:

Sobre altura e alimentação de caçadores e coletores: [1] https://www.researchgate.net/publication/233776720_Transition_to_Agriculture_in_Central_Europe_Body_Size_and_Body_Shape_amongst_the_First_Farmers [2] https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2106743119 [3] https://www.drpauloricardo.com.br/materias/historia-da-coluna-vertebral-e-o-desenvolvimento-das-patologias/ [4] https://www.cbd.int/doc/c/084c/e8fd/84ca7fe0e19e69967bb9fb73/unep-sa-sbstta-sbi-02-en.pdf [5] https://ourworldindata.org/human-height



Sobre Pinker: [1] https://www.psychologytoday.com/intl/blog/sex-dawn/201103/steven-pinkers-stinker-the-origins-war [2] https://bedejournal.blogspot.com/2011/11/steven-pinker-and-an-lushan-revolt.html?fbclid=IwAR1SMD3Z7ZcrGcMUxOp10ADrt2u5rGN6HRtaXn2tFOFvjAWf4M6xlvcAtq8 [3] https://www.federacaoanarquista.com.br/sobre-a-violencia-na-civilizacao/#/ [4] https://www.jstor.org/stable/e48504483?fbclid=IwAR1dYshrdujI0NPAomOan1AZ3ap1Uw4SOko8XOjgQ4Yl_F2Y3gS44RQWqSM [5] http://www.columbia.edu/itc/journalism/stille/Politics%20Fall%202007/Readings%20--%20Weeks%201-5/Civilization%20of%20crime,%20intro%20and%20chapter%20one.pdf [6] https://forbes.com.br/forbeslife/2023/03/entre-os-paises-mais-felizes-do-mundo-em-2023-brasil-esta-em-49o/ [7] https://ourworldindata.org/grapher/homicide-rates-across-western-europe [8] https://www.ie.ufrj.br/images/IE/PEPI/teses/2017/Tiago%20Nasser%20Appel%20.pdf [9] https://www.cold-takes.com/unraveling-the-evidence-about-violence-among-very-early-humans/ [10] https://www.cold-takes.com/unraveling-the-evidence-about-violence-among-very-early-humans/


2- "Sociedades caçadoras e coletoras podem sustentar grandes populações?" Nick Lala afirma que é possível sustentar grandes populações sem agricultura, e para corroborar tal argumento ele cita a sociedade de Poverty Point, que segundo ele teria sustentado até 6 mil pessoas por 3 séculos sem necessidade de agricultura. Isso porém é falso. O que acontece é que além de ser um caso único entre caçadores e coletores de construção de grandes estruturas em pouco tempo, e devido a construção desses montes, vários trabalhadores de outras regiões vinham ajudar (trazendo comida de suas próprias regiões, inclusive) e então a população aumentava sazonalmente e podia atingir até alguns milhares de pessoas, sendo que a população local real era de algumas centenas de pessoas, o que é de se esperar para populações caçadoras e coletoras [1] [2]. Além disso, 6 mil é o auge que uma população caçadora coletora pode chegar, e isso é uma cidade extremamente pequena de sociedades que praticam agricultura. Jamais verá sociedades caçadoras e coletoras chegarem aos 100 mil habitantes ou mais por exemplo. Para tentar contornar esse ponto, Nick Lala diz que as sociedades das américas eram todas assim, e como tinha milhões de habitantes nas Américas pré colombianas, então haveria sociedades com milhões de pessoas que seriam caçadoras e coletoras. No entanto isso também não é verdade, a população das Américas variou muito ao longo dos séculos, indo de pouco mais de 2 milhões de habitantes em 10 mil a.C para um pouco mais de 56 milhões em 1400 d.C [3]. Não podemos nos esquecer que boa parte dessa população estavam em cidades-estado que praticavam agricultura, como os incas e astecas, que somando a população dos dois já tínhamos cerca de metade dessa população, e boa parte em cidades-estado menores que praticavam a agricultura, como os Cañaris (~50 mil pessoas), Teotihuacan (~200 mil pessoas) e Huaxtes (~500 mil pessoas). [4] [5] [6] [7]. Assim, em nada os povos americanos e nem essa comunidade de Poverty Point refutam o já consolidado fato que a agricultura promove alimentação muito mais fácil a um número muito maior de pessoas que sociedades caçadoras coletoras jamais poderão fornecer. A agricultura foi sim uma das melhores coisas que já aconteceram na história da humanidade, permitindo aos homens controlar a produção de comida, aumentar a população e com mais gente, mais cabeças pensando e mais invenções ao longo da história até chegar aos níveis de hoje. Para se ter uma ideia, até 8 mil a.C (início das primeiras atividades agrícolas) após 200 mil anos sem agricultura, a população mundial é estimada em 7 milhões de pessoas, apenas 5 mil anos depois, no ano 3 mil a.C, já subiu para 50 milhões, e só vem subindo desde então conjuntamente com outras revoluções agrícolas. [8] [9]. Existem várias razões que tornam a agricultura melhor que o sistema de caça-coleta em prover mais alimentos a população. São eles:

  • As mudanças no clima, tornando o ambiente muito frio ou muito seco para depender de fontes de alimentos selvagens;

  • A maior densidade populacional pode ter demandado mais alimentos do que poderiam ser colhidos na natureza, e a agricultura fornecia mais alimentos por área, mesmo que exigisse mais tempo e energia;

  • A caça excessiva pode ter ajudado a levar os mamutes peludos e outras espécies da megafauna à extinção;

  • O processo de domesticação das plantas, teria tornado a agricultura um estilo de vida mais viável. [10]

As dificuldades de conseguir alimento eram tantas que os povos caçadores coletores tinham que regular suas populações. Nick Lala inclusive afirmou isso, porém ele amenizou bem a forma que eles usavam para atingir tal fim. Segundo eles, os caçadores coletores faziam abortos, porém a real técnica era o infanticídio mesmo. Literalmente deixar filhos para morrer pois não tem como alimentá-los. Isso claro, em tempos de escassez de recursos, o que ocorria na maior parte do tempo. [11] Não à-toa a população aumentou tanto com o incremento da agricultura. Ela está bem mais suscetível ao domínio humano e menos às intempéries da natureza, além de produzir mais comida acessível aos seres humanos que a caça e coleta.


Quanto a isso não há muitas dúvidas, é consenso acadêmico total. O próprio artigo que referenciei mostra como pesquisadores tentaram ao máximo encontrar uma sociedade sequer que tenha se tornado complexa, com grande população e sem agricultura e não acharam nenhuma. Até chegam a citar uma no Peru nesse trecho:


" Os problemas com esta explicação ficam evidentes mesmo após uma análise superficial. Muitos povos agrícolas nunca desenvolveram Estados, e ao menos uma antiga cultura complexa (no Peru) parece ter evoluído sem uma economia agrícola"


E nessa nota de rodapé:


" 75 “Here, as early as early as the preceramic VI period, according to Lanning (1967: 59), “some hints of the existence of stratified societies and of sociopolitical organization which transcended the level of the village…”. And Moseley (1975:104) asserts that “the Peruvian data… demonstrate that the foundation of civilization [on the coast] arose out of a subsistence pattern that was not dependent upon cultivated foods.””


Pesquisando sobre, a tal sociedade provavelmente é a civilização de Caral, no litoral do Peru e ao que tudo indica de fato por muito tempo se achou que fosse uma sociedade complexa sem agricultura, mas ao que tudo indica eles cultivavam milho, sim. Como mostra esse trecho de uma pesquisa sobre essa sociedade [12]: "Testes arqueológicos em vários locais na região do Norte Chico da costa centro-norte fornecem uma ampla gama de dados empíricos sobre a produção, processamento e consumo de milho. Novos dados extraídos de coprólitos, registros de pólen e resíduos de ferramentas de pedra, combinados com 126 datações de radiocarbono, demonstram que o milho era amplamente cultivado, intensamente processado e constituiu um componente principal da dieta durante o período de 3000 a.C. a 1800 a.C"


Assim, continua a saga para encontrar alguma sociedade que tenha se desenvolvido e se tornado complexa sem a agricultura. No mais, a regra é bem clara: para se desenvolver tem que ter tido agricultura e estado. Nenhuma sociedade se desenvolveu minimante sem isso, negar isso é negar o óbvio.

Fontes:

[1] https://countryroadsmagazine.com/art-and-culture/history/poverty-point-s-new-status/ [2] https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/gea.21430 [3] https://ourworldindata.org/grapher/population?country=OWID_NAM~OWID_SAM~OWID_EUR [4] https://www.historiadomundo.com.br/asteca [5] https://www.historiadomundo.com.br/inca [6] https://en.wikipedia.org/wiki/Ca%C3%B1ari [7] https://ensinarhistoria.com.br/teotihuacan-a-cidade-dos-deuses/#:~:text=Por%20isso%20usa%2Dse%20a,ter%20at%C3%A9%20200%20mil%20habitantes. [8] https://www.scielo.br/j/txpp/a/TWxQX34RrdtTmTPpDPtgNhS/?format=pdf&lang=en [9] https://croplifebrasil.org/noticias/a-agricultura-no-papel-da-transformacao-social-da-humanidade/ [10] https://croplifebrasil.org/noticias/a-agricultura-no-papel-da-transformacao-social-da-humanidade/ [11] https://www.ie.ufrj.br/images/IE/PEPI/teses/2017/Tiago%20Nasser%20Appel%20.pdf


[12] https://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://pt.wikipedia.org/&httpsredir=1&article=1011&context=natresreinhard


Conclusão: Steven Pinker e vários autores estão certos, as sociedades caçadoras coletoras eram um lixo, além de toda limitação tecnológica eram extremamente violentas, com várias guerras e violência interna entre os indivíduos. Além disso, não conseguiam sustentar populações maiores que algumas dezenas de indivíduos. Sendo assim, a agricultura e a criação dos estados foram boas para a sociedade, levando muitos avanços à humanidade. E o Sr. Nick Lala está absolutamente refutado!

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